"Venham a mim as criancinhas"
Eremita
O interrogatório a Mítia, alegado parricida, é um suplício para o leitor. O narrador bem tenta animar o leitor referindo várias vezes todas as trocas de palavras que abreviou, mas soa a ameaça velada. Pensar que este livro foi escrito pelo mesmo autor que inventou Raskólnikov e Porfiri Pietrovich deixa-me perplexo. Vem depois o livro quatro, que conta a história de Kólia Krassókin, um miúdo. É uma lufada de ar fresco ou - para ser menos preguiçoso e mais rigoroso - um inesperado sumo de romã no último posto de hidratação de uma maratona. O leitor sente-se salvo e revigorado. Pensemos em Os Capitães da Areia ou Sinais de Fogo. É evidente que miúdos, adolescentes e jovens (menos de 25 anos) dão quase sempre excelentes personagens, sobretudo quando comparados a homens maduros impulsivos, ciumentos e dramáticos, como Mítia. Longe no tempo, perto do coração. Há ainda um pormenor que chama atenção do leitor: na página 227 do livro 4 (edição da Editorial Presença), lê-se: "A propósito, ia-me esquecendo de mencionar que Kólia..." Devo estar errado, mas pareceu-me ser a primeira vez que o narrador se refere a si próprio. Risco o apontamento até confirmação ulterior.