Um tempo preciso
Eremita
[actualizado]
Estes contos [Ronda das Mil Belas em Flol, de Mário Carvalho] fixam um tempo preciso, que talvez coincida com os anos 70 e 80 do século passado, mas isto é presunção de leitor atento à linguagem e ao modus operandi das personagens, sem resquício de juízo valorativo. Eduardo Pitta, 1.10.2016, Sábado
Vou ainda a dois terços do livrinho, mas já apanhei três detalhes que seriam anacrónicos nos anos 70 e 80 do século passado: uma das mulheres desloca-se de Smart, um carro que foi lançado em 2003, o narrador esquece-se de bloquear um número de telefone e há num conto aparece uma referência a correio electrónico. Por outro lado, a importância que Mário de Carvalho dá à pilosidade púbica parece algo datada. Voltarei a este tema.
Aproveito para vos recomendar também a crítica de Alberto Velho Nogueira ao livro de Mário de Carvalho, que é diametralmente oposta à de Pitta a todos os níveis. Nenhuma das críticas me satisfez. Correndo o risco de cometer uma grande injustiça, pois do autor só li um romance, dois livros de contos e um manual, o vocabulário extenso de Mário de Carvalho, rico em palavras caídas em desuso ou a que ninguém alguma vez recorreu com frequência, nem sempre se articula de um modo orgânico com a prosa, que ganha ressonâncias de português com restauro de mérito duvidoso. Quanto ao livro em concreto, Eduardo Pitta e Alberto Velho Nogueira não discutem o elemento mais paradoxal: por que motivo os contos sobre sexo de Mário de Carvalho, que incluem descrições explícitas de práticas sexuais, são tão anticlimáticos?