Um blogger a sério
Eremita
Em plena série que terá pelo menos nove posts (... and counting), tendo por pretexto uns meros arrufos entre dois bloggers, um projecto que 99% dos leitores receberão com indiferença e perplexidade, espero que ninguém se equivoque e julgue que me considero com autoridade moral para pôr em causa a obsessão do valupi com o João Miguel Tavares. Pelo contrário, é o meu guilty pleasure. Reconforta-me saber hoje que, na ressaca de cada 10 de Junho, teremos durante as próximas décadas a resmunguice do Valupi assistida pelo seu brilhantismo analítico e capacidade de trabalho. Isto é absolutamente maravilhoso. Maravilhoso. Assistimos ao nascimento do post na sua versão longform. A blogosfera assume a sua verdadeira natureza: barroca, obcecada e monumentalmente inútil. Não estou a ser irónico. O que o Valupi fez é difícil, inteligente e até arrebatador, sem subtexto ou mensagem subiminar da minha parte. Reparem, eu, que considero o nosso poeta-cronista-ensaísta-teólogo-escritor-intelectual-vice-reitor-da-Universidade-Católica-Prémio-Cidade-de-Lisboa-de-Poesia-Prémio-PEN-Clube-Português-Prémio-Literário-da-Fundação-Inês-de-Castro-Prémio-Literário-Res-Magnae-Grande-Prémio-APE/CM-de-Loulé-Crónica-e-Dispersos-Literários-Grande-Prémio-de-Poesia-Teixeira-de-Pascoaes-Prémio-Capri-San-Michele-Prémio-"Uma vida por... paixão!"-do-jornal-italiano-Avvenire-Co-vencedor-do-prémio-"Cassidorio il Grande"prémio-Helena-Vaz-da-Silva-futuro-Prémio-Pessoa-Comendador-da-Ordem-do-Infante-D.-Henrique-Comendador-da-Ordem-Militar-de-Sant'Iago-da-Espada-presidente-das-comemorações-do-10-de-Junho-de-2020-Medalha-de-Mérito-da-Região-Autónoma-da-Madeira-pároco-cardeal-Arquivista-do-Arquivo-Apostólico-do-Vaticano-Bibliotecário-da-Biblioteca-Apostólica-Vaticana-conselheiro-de-Francisco-e-candidato-a-papa um açambarcador de distinções e uma das figuras mais sobrevalorizadas e aborrecidas da pátria, até tolero mais um elogio ao ubíquo Tolentino se o Tolentino for usado como matéria-prima para o Valupi brilhar e ainda lhe der jeito para ofuscar o João Miguel Tavares. E se o plano do Valupi é humilhar João Miguel Tavares pelo confronto da sua prosa e pensamento limitados com os de figuras realmente maiores, como Jorge de Sena, só posso aplaudir, porque uns parágrafos de Sena a meio do dia, apanhados assim de repente, quando menos se esperava, são uma revigorante chuveirada de humildade que nos sacode da bebedeira de mediocridade em que vivemos e nos faz querer ler mais e pensar melhor. O que me move não é um ódio a João Miguel Tavares, uma figura que aparenta um contentamento com a vida que criou algo curioso e tem um modus operandi questionável, mas a quem reconheço qualidades. O que eu tenho mesmo é apreço pelas qualidades intelectuais e a excentricidade do Valupi, apesar das discussões violentas em que ocasionalmente nos envolvemos a propósito de José Sócrates e do valor do anonimato online - sim, são os nossos grandes temas (barroquismo? Check. Obsessão? Check. Inutilidade monumental? Check). Percebe-se isto? É convincente? Talvez não. Devem pensar que há aqui alguma marosca, qualquer coisa sublimar na negação do subliminar, um certo avesso do avesso do avesso do avesso, só que de número ímpar, ao contrário do que diz a canção. Não há. Fiquem lá com os vossos retweets, os vossos likes, as vossas stories e o tick tock das crianças. Eu parei circa 2003 e não quero outra coisa. Os blogs nunca estiveram em crise, meus caros.