Talvez o grande problema da literatura russa
Eremita
A leitura do terceiro livro dos Karamásov tem sido algo penosa. Depois do magnífico episódio da morte do monge, nada de muito interessante ocorreu. Mítia, o Karamásov dado às tentações da carne, é demasiado ciumento para ganhar o meu respeito. E é nestas alturas, quando o enredo não prende e escasseiam as reflexões do narrador, que um leitor fica menos tolerante. Ora, é sabido que as contribuições dos russos mais perniciosas para a humanidade foram o comunismo e as variações sobre os nomes próprios, que incluem diminutivos e outras formas. Como se não bastasse a fonética estrangeira, que dificulta a memorização como a fisionomia asiática dificulta a identificação, cada nome aparece metamorfoseado mais de uma vez, como se um chinês mudasse de penteado todos os dias. O resultado é uma enorme confusão na cabeça do pobre leitor português, sobretudo quanto às personagens femininas. E então estamos nisto: Mítia destrói a sua vida por causa de uma mulher e eu não consigo distinguir a aristocrata da sopeira.