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Um diário trasladado

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02
Abr19

Como parar o lobby das medicinas alternativas?


Vasco M. Barreto

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Fonte

Com a ajuda da Organização Mundial de Saúde, dos nossos partidos, da RTP e da indiferença da população, o lobby dos aldrabões das medicinas alternativas continua a vencer. No Prós e Contras de ontem, voltou a acontecer o que sempre acontece nestes debates: quem tem toda a razão e sensatez do seu lado perde. David Marçal e João Júlio Cerqueira são inteligentes e informados, mas pouco importa a qualidade argumentativa e preparação de quem critica as medicinas alternativas. A derrota pode ser declarada mesmo antes da primeira intervenção, porque quando se dá palco a uma corja de aldrabões o público fica com a impressão de que eles estão ao nível dos médicos e dos cientistas. Não estão, trata-se de uma equivalência tão falsa como pôr astrólogos (outro lobby de aldrabões) a discutir com astrónomos. Mas até esta simples constatação é contraproducente, porque soa arrogante. Os aldrabões enredaram-nos num catch 22. Parece até que temos de ser cordiais e evitar descrevê-los como aldrabões. 
 
É impossível convencer quem já teve uma experiência positiva com as medicinas alternativas de que não há nexo de causalidade (além de um eventual efeito placebo) entre a intervenção a que foi sujeito e a cura. Estas pessoas passam a funcionar como autênticos convertidos, mais fervorosos e empreendedores do que uma testemunha de Jeová na promoção das agulhas, mezinhas e comprimidos de coisa nenhuma, animados pela sua experiência e a desconfiança de raiz conspirativa que os põe contra as farmacêuticas e a medicina convencional. É também praticamente impossível convencer os indecisos. Estes estão predispostos a acusar os cientistas de cientismo, são presa fácil da pseudociência dos aldrabões, não percebem como se gera consenso na ciência, nem como funcionam as publicações científicas, e até vêem a aceitação das medicinas alternativas como um exemplo virtuoso de multiculturalismo (basta ler as propostas do Bloco de Esquerda). Não sei sinceramente o que fazer, mas com debates não vamos conseguir reverter o mal entretanto feito.
 
A nossa República branqueou as medicinas alternativas ao legitimar cursinhos e certificações da treta. Neste momento, não só temos aldrabões a formar futuros aldrabões, algo que antes só acontecia em estabelecimentos prisionais, como temos aldrabões encartados com vontade de ir ao pote do Serviço Nacional de Saúde. Que esquizofrenia republicana é esta que faz com que um país defenda políticas e medicina com base na evidência, mas também a homeopatia, que não tem qualquer hipótese de funcionar segundo as leis da Física e da Química, mais não sendo do que uma teatralização da intervenção médica? E que autoridade resta a um Estado cúmplice desta aldrabice? 
 
Não é com debates que vamos a tempo de reverter o mal entretanto feito. Os aldrabões ficam mais fortes a cada novo debate e vão-se propagando como vampiros. Do que precisamos é de uma mobilização geral contra esta gente. A luta não é para ser travada apenas pela Ordem dos Médicos. É para ser travada por todos: todas as corporações que se guiam pela evidência, dos engenheiros aos biólogos, todas as associações que se interessam pela promoção e preservação do conhecimento, todos os cidadãos que querem viver numa sociedade que respeita a verdade. Esta luta precisa também de bom jornalismo de investigação, não do habitual Pôncio Pilatos que se lembra de moderar mais um debate sobre o tema. Encontrem casos em que a acupunctura correu mal, casos em que a naturopatia e homeopatia foram perdas de tempo que atrasaram intervenções médicas que poderiam ter salvo vidas, o raríssimo caso do aldrabão que tem vontade de desabafar porque algum problema de consciência lhe tira o sono. Precisamos de histórias pois os números não têm chegado para mudar as opiniões. Não façam é a enésima reportagem neutra com depoimentos de um homeopata e um médico, nem vão à procura do médico que adoptou as medicinas alternativas, sobretudo se não frisarem que se trata de uma excelente oportunidade de negócio. É preciso criar uma cultura em que as pessoas terão vergonha de dizer que foram ao homeopata ou que são homeopatas. Chega de cordialidade. 
 
Sabemos qual o contributo das medicinas alternativas para o bolso de quem as pratica. E para a humanidade, quais foram os contributos da acupunctura, homeopatia e naturopatia? Num programa de entretenimento que antecedeu o Prós e Contras, uma das perguntas era sobre a varíola, uma doença terrível que poderá ter provocado cerca de 500 milhões de mortes e conseguimos erradicar devido à ciência e a práticas de saúde pública baseadas na evidência. Ver logo a seguir um trio de charlatões com muitos minutos de propaganda pagos pelo contribuinte foi absolutamente revoltante. 

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