Sobre uma unanimidade nacional
Vasco M. Barreto
A USJ justificou a dispensa com os comentários e pesquisas sobre a política local feitas por Sautedé, que poderiam colocar a universidade numa “situação delicada”. “Se há um docente com uma linha de investigação e intervenção pública [política], coloca-se uma situação delicada. Ou a reitoria pressiona e viola a sua liberdade, ou cada um segue o seu caminho”, explicou na altura Peter Stilwell, reitor da USJ.
Uma evidente violação da liberdade de expressão e da autonomia criativa do docente. Um dos mais importantes politólogos sobre aquela zona do mundo, o antigo professor da Universidade de Stanford, Ming K. Chan (entretanto falecido), classificou o caso como “uma nova inquisição”.
Nesse mesmo ano, o então vice-reitor da Universidade Católica visitou Macau e os jornalistas não se esqueceram do que tinha acontecido. José Tolentino Mendonça comentou o despedimento com questões de “percurso académico”: “Em questão estiveram o percurso académico e os graus que são necessários para ensinar a longo prazo numa universidade”, disse o agora cardeal. “Estamos solidários com a reitoria da USJ. A universidade tem de pedir aos seus docentes uma qualidade académica no sentido de concluírem todo o seu percurso académico, o seu doutoramento e graduações”, comentou, referindo-se ao facto de, em sete anos de docência na USJ, Sautedé não ter completado o seu doutoramento.
Em resposta, o investigador – que agora leciona numa universidade de Hong Kong – afirmou que o doutoramento não era requisito para leccionar na universidade em Macau e que “mais de metade dos meus antigos colegas teriam que ser demitidos, o que não acontece na USJ”, dando até o exemplo de um diplomata que serviu em Macau depois da transferência e que foi recentemente contratado pela instituição que também não tem doutoramento.
Poderia Tolentino Mendonça ter dito alguma coisa diferente do que disse?
Estes são momentos definidores na vida de qualquer um.
Tolentino Mendonça tinha o direito de dizer o que disse, mas quando leio que recentemente ganhou um prémio porque é preciso “ouvir as vozes desafiadoras dos principais intelectuais e artistas europeus, como Tolentino Mendonça”, que “devem orientar e inspirar os esforços coletivos para construir uma sociedade mais justa e mais inclusiva, para a Europa e para todo o planeta”, não posso deixar de dizer que Tolentino Mendonça fechou os olhos para Éric Sautedé. João Paulo Meneses, Público
Publicarei o direito de resposta, se Tolentino Mendonça se der ao trabalho de o escrever.