Sem ponta de ironia
Vasco M. Barreto
Há já muitos anos, li um livro de João Tordo e não fiquei impressionado. Não voltei a ler este autor, mas a julgar pela crítica de Carlos Maria Bobone ao seu último romance (Ensina-me a voar sobre os telhados), Tordo continua a ser Tordo, além de ter aderido entretanto à moda dos títulos horripilantes. Porém, quando reparei que o romance tem 487 páginas, senti admiração pelo autor. É a admiração que tenho por quem trabalha muito, independentemente da qualidade, do sentido e até da moralidade do que faz. Um escritor mediano que arranca 487 páginas, um culturista que vai para o ginásio depois do emprego, um carteirista ou pequeno aldrabão que não dá o dia de trabalho por terminado antes das oito da noite. Há um mérito no esforço persistente que precisa de ser valorizado.