Sacudir o sangue do capote
Eremita
Uma idosa, de 69 anos, matou outra, de 88 anos, com uma bengala, no domingo à noite, no lar da Santa Casa da Misericórdia de Ourique, no Alentejo, disse hoje à agência Lusa fonte da GNR. DN
Sobre esta tragédia, a Misericórdia de Ourique apressou-se a divulgar que a alegada homicida "estava a ser acompanhada pelo serviço de psiquiatria do hospital de Beja, que lhe concedeu altas consecutivas". Entretanto, a Dra. Ana Matos Pires*, directora do serviço de psiquiatria visado, enviou um esclarecimento ao Diário do Alentejo em que desmente as afirmações levianas da Misericórdia de Ourique e acrescenta algumas considerações que me pareceram pertinentes e exemplares, no teor e na forma, do que deve ser um esclarecimento público.
Trabalhar com pessoas com perturbações mentais é uma profissão dura, no sentido em que o risco de uma tragédia nunca pode ser posto de lado. À pergunta "como pôde isto acontecer?", que logo surge nos espíritos com queda para a indignação fácil, deveria imediatamente suceder esta outra: "como é que isto não acontece mais vezes?"
* Declaração de interesses: tornei-me amigo da Dra. Ana Matos Pires quando vivia em Lisboa e admiro-a pela frontalidade e empenho na profissão.