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10
Dez17

Quem sucedeu a Eduardo Prado Coelho?


Eremita

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Agora que passou uma década sobre a morte de Eduardo Prado Coelho, descrito por Eduardo Lourenço como "a pessoa mais brilhante e mais inteligente" que o decano dos ensaístas conheceu em toda a sua longa vida, é oportuno perguntar quem ocupou o seu lugar enquanto "intelectual público"? Não encontro em ninguém da geração de Prado Coelho, que desapareceu prematuramente (aos 63 anos), a mesma curiosidade pelo que é novo nas artes da palavra (a prosa, a poesia, o teatro, o cinema e a filosofia) e entusiasmo pela partilha. Vasco Pulido Valente é misantropo e ludita, a Pacheco Pereira falta ligeireza para escrever à Barthes sobre soutiens, António Barreto passou décadas indignado, tornou-se aborrecido e perdeu influência, Maria Filomena Mónica vive fascinada com o seu umbigo e aos demais falta bagagem cultural ou fama entre o grande público. Na geração seguinte, Tolentino Mendonça falha por ser padre e concluo, para minha surpresa, pois antes de começar a escrever ainda não me tinha apercebido, que quem ocupa já ou está em melhor condição de vir a ocupar o lugar de intelectual público deixado vago há dez anos é... Pedro Mexia. Mexia não tem galões académicos para exibir, mas para um intelectual público a academia não é condição necessária, apenas acrescenta algum estatuto. Mexia também não é uma réplica de Prado Coelho, bastando lembrar as diferenças na orientação política, mas dedica-se igualmente a escrever sobre as artes da palavra (excluindo a filosofia), sabe misturar os registos mundano e erudito, está muito bem relacionado nos meios do poder político e dos media, e a sua reputação de melancólico e pessimista, aparentemente nos antípodas da personalidade de Prado Coelho, muito sinceramente, parece-me falsa ou no mínimo anacrónica, talvez uma herança de um estilo de escrita autodepreciativa em blogs para seduzir raparigas ou uma visão estereotipada da personalidade de um poeta, e ainda equivocada, pois um cultor do "pessimismo antropológico" não tem forçosamente de ser pessimista. Mexia tem sentido de humor e faz gala em frisar que gosta de mulheres bonitas, tal como Prado Coelho. Falta-lhe ou perdeu a truculência que fazia de Prado Coelho um polemista ímpar, capaz de prolongar uma disputa nos jornais durante semanas, mas em tempos de truculência generalizada e polémicas que se sucedem a uma velocidade incompatível com o ritmo das rotativas, talvez seja a mudança necessária para que o lugar de Prado Coelho possa ser ocupado e tudo volte a ficar na mesma. 

 

 

3 comentários

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    Eremita

    11.12.17

    A Frederico Lourenço falta, actualmente, uma presença mais regular nos "media" para cumprir o papel de intelectual público. Mas concordo que tem todas as qualidades que identifiquei em Mexia e o facto de ser académico dá-lhe uma autoridade acrescida e uma profundidade ao trabalho que talvez falte na obra publicada do Pedro (estou a pensar nos textos em prosa e não na poesia do Mexia, pois não me sinto competente para a avaliar). Como se não bastasse, Frederico Lourenço tem uma formação musical sólida e o Pedro Mexia, a julgar pelo que escreve, mal se distingue da generalidade da malta que escreve sobbre música pop, isto é, parece relacionar-se com a música como quem quer perpetuar a adolescência, favorecendo tudo o que é paramusical (das letras à personalidade e biografia dos músicos), o que deve ser fonte de satisfação para quem assim escreve mas pouco adianta a quem lê.
  • Sem imagem de perfil

    Anónimo

    11.12.17

    Sim, concordo com a tua resposta ao meu comentário. O Mexia, ao entrar no terreno da crítica musical, sem ser capaz de distinguir uma escala de um modo, ou sem saber o que é a afinação drop D numa guit. eléctrica, coloca-se ao nível de 99% da suposta crítica musical portuguesa da área pop/rock: um terreno pantanoso onde se julga que saber o ano de todos os álbuns dos Smiths lhes atesta conhecimento histórico, e que gostar de LCD Soundsystem lhes dá um toque modernaço porque são as "novas electrónicas" (como eles dizem).
    O A. Guerreiro é um tipo interessante e inteligente mas limitado a temas de uma certa área da filosofia apenas, como se tudo se explicasse por remissão a Benjamin ou Agamben. Não chega.
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