"Que aconteceu a D. Manuel Clemente?"
Eremita
Imagem da Lusa, que manipulei.
Não deve haver neste país estatística mais sobrestimada do que a percentagem de "católicos praticantes", exceptuando a do tamanho médio do pénis a partir de estimativas pessoais. Ratzinger deixou menos viúvos do que Sócrates, o que não deixa de ser extraordinário. Se dúvidas houver quanto ao impacto nulo das mais recentes declarações de D. Manuel Clemente, leia-se a reacção inteligente e sensata de João Távora, o mais católico dos bloggers que acompanho. O que fica por responder é mesmo a transfiguração de D. Manuel Clemente:
Como é que alguém com estas qualidades se transfigura no defensor da "vida em continência", essa formulação sumamente hipócrita com que agora D. Clemente pretende obrigar os casais "irregularmente" recasados a abdicar de ter relações sexuais? Como é que um intelectual e homem de cultura de méritos reconhecidos pode sofrer uma regressão tão aparatosa de raciocínio e sentido do real, convidando implicitamente os recalcitrantes a abandonarem uma Igreja fechada sobre si própria e divorciada da sociedade? Como é que nestes tempos de tentações integristas e intolerância religiosa – de que o radicalismo islamista é a expressão mais extrema –, um homem como parecia ser D. Manuel Clemente se permite o pecado da inclemência e da falta de lucidez mais rudimentar? É verdadeiramente um mistério. Vicente Joge Silva