Pacheco Pereira: mau trabalho
Eremita
O problema do pluralismo na actual informação não está em substituir um pelo outro – está em cada vez mais os órgãos de informação alinharem pelo “pensamento único”, que nasceu no “jornalismo económico” nos anos da crise de 2008 em diante e se consolidou com força durante os anos da troika e de Passos Coelho. Foi nessa altura que a direita portuguesa ganhou a batalha ideológica à esquerda e com uma little help from my friends, bastante grande aliás, está a consolidar e a expandir posições. Esses “amigos”, os conhecidos e os desconhecidos, envolvem interesses económicos, investimentos de dúbia origem, como acontece com os angolanos, lobbies políticos e ideológicos que se organizaram mais agressivamente para manter o legado da intervenção da troika, apontando como alvo da austeridade a classe média e os mais pobres, desequilibrando as leis do trabalho a favor do patronato, e pretendendo “limpar” o país das “oligarquias”, ou seja, dos sindicatos, dos intelectuais, dos jornalistas incómodos, de quaisquer pessoas que se lhes oponham. Aliás, a recente campanha miserável contra Silva Peneda, que ousou contestar a posição do PSD, é um exemplo de um estilo que nasceu nestes anos, de pessoalizar os ataques políticos, começando por referir sempre o nome das pessoas nos títulos dos artigos sem discutir as ideias ou as políticas. Pacheco Pereira
Num artigo sobre a falta de pluralismo nos media e o crescente domínio da direita, Pacheco Pereira diz que "veria com muita preocupação que o Observador, que é um projecto político, “passasse” para um jornal do mainstream como o Diário de Noticias ou o PÚBLICO". Toda a gente percebe a mensagem, mas quando nada escreve sobre a saída recente de três cronistas de esquerda do Público, o silêncio é mesmo - por uma vez - ensurdecedor. Isto começa a cansar. Se alguém usa os media para discutir a falta de pluralismo, deve estar preparado para levar a discussão até às últimas consequências, isto é, correr o risco de ser dispensado do órgão de comunicação em que escreve. É que para se ser a consciência moral da nação, não basta ter a cabeça no lugar, é preciso tê-los também no sítio. Caso contrário, mais vale ficar caladinho, como escolheram fazer todos os outros colunistas do Público.
Adenda: estamos de acordo.