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28
Set20

Juristas, magistrados, Miguel Sousa Tavares e o feminismo


Vasco M. Barreto

Às vezes Portugal parece um país decente, a anos-luz do que era há 50 anos. Mas a semana que passou foi particularmente notória em exemplares cavernícolas, como o do já conhecido professor de Direito que gritou, no seu julgamento por violência doméstica, “morte a todos os feminismos”.

É possível alguém dizer o que o professor Aguilar diz nos seus mestrados e continuar a dar aulas na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa? Até hoje, sim. O homem compara o feminismo ao nazismo e diz que a violência doméstica é um atentado à família. E escreve no programa de Direito Processual Penal III: “Dizem os psis que as empresas devem contratar mais mulheres, designadamente para cargos dirigentes, porquanto as mulheres são, na linguagem pós-moderna, mais emocionalmente inteligentes do que os homens, a saber, são ‘pessoas emocionalmente muito inteligentes’, i.e., precisamente aquilo que na Antiguidade, na Idade Média e ainda no Antigo Regime mas já na Idade Moderna, se chamava a pessoas desonestas, de ‘espertas’, em suma, de ‘canalhas’.” 

O professor citado é um exemplar raro de machista histérico. Mas infelizmente Portugal ainda está cheio de machistas-não-tão-histéricos-assim, como o inevitável Sousa Tavares que, na crónica deste sábado do Expresso, se insurge contra a possibilidade de um imposto extraordinário, esperando que só tenha acolhimento “naquele clube de histérico-feministas-bloquistas da Universidade Nova”, universidade onde trabalha a nossa colunista Susana Peralta que respondeu à letra, nas redes sociais, ao machismo só-razoavelmente-histérico de Sousa Tavares. Por acaso, nesse dia, o caderno principal do Expresso, onde escreve o cronista, era dirigido pela feminista Leonor Beleza.

Esporadicamente pensamos que este mundo acabou. Pode passar-nos pela cabeça que as pessoas, nomeadamente as que escrevem para os jornais, dão aulas em faculdades e são juízes nos tribunais, sabem o significado da palavra “feminista”, um movimento que remonta ao princípio do século XX – e o século XXI já vai com 20 anos. Mas não. Na reserva protegida do machismo lusitano ainda não se conseguiu perceber o significado da palavra “feminista”. Um exemplo disso foi o julgamento do citado professor de Direito por violência doméstica. A juíza Joana Ferrer, depois do arguido várias vezes irromper contra o feminismo e as feministas, disse: “Excelentíssimo senhor professor doutor, o senhor insiste em chamar-me feminista, mas eu não sou.”

O machismo histérico tem uma vantagem – é possível agir em conformidade com a Constituição da República. Esperemos que a Faculdade de Direito o faça. Ana Sá Lopes

 

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