Os idiotas úteis das Terapias Alternativas
Eremita
Num trabalho académico recentemente defendido por Marta Bacelar na Escola de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, a economista apresentou um estudo sobre utilizadores de TNC (terapias não convencionais) segundo o qual 96 dos 100 utentes dessas terapias que entrevistou (70% dos quais com licenciatura ou mais) se consideravam melhor ou muito melhor após o tratamento e pensavam que as TNC devem ser integradas no SNS. Leonor Nazaré
Um dos efeitos mais perniciosos dos estudos de opinião, que alimentam uma indústria e inúmeras carreiras académicas, é a confusão que criam entre a realidade e a opinião que temos sobre a realidade. Pergunta-se aos europeus o que pensam sobre a União Europeia e a opinião média expressa no inquérito passa a ser a descrição precisa da União Europeia. O problema é que uma descrição da realidade não se legitima segundo critérios democráticos. Aliás, em certa medida, a História do conhecimento é a de uma guerra permanente contra a intuição e o senso comum (a descoberta de que é a Terra que gira à volta do Sol, por exemplo). O resto da segunda investida de Leonor Nazaré é mais do mesmo, isto é, uma cavalgada quixotesca contra o "bastião do dogma" e a arrogância dos cientistas. Sinceramente, não há pachorra para esta conversa e recomendo a resposta de Carlos Fiolhais e David Marçal ao primeiro artigo de Leonor Nazaré. Mas permitam-me um remate: todos os movimentos de ideias de mérito duvidoso geram a sua legião de "idiotas úteis". Aldrabões como Deepak Chopra ou o professor Karamba só conseguem ganhar a vida à custa de mentiras porque gozam da simpatia de pessoas respeitáveis (isto é, com capital social) muito dadas ao relativismo e ao holismo, como Leonor Nazaré. Que o Estado também ceda a esta gente é uma verdadeira tragédia a prazo.