Orientação política e imprensa: "mau trabalho"
Eremita
Faz todo o sentido chamar atenção para as contas de merceeiro que o Expresso fez sobre a representação dos partidos nos media. O formidável Valupi excitou-se tanto que descreve o trabalho como o "mais interessante artigo publicado num jornal desde o começo do milénio". É díficil estimar as partes de ironia e hipérbole nesta apreciação de Valupi, pois no post imediatamente anterior ele diz que não há imprensa em Portugal. Já o entusiasmo de Valupi é muito fácil de explicar: a contagem dos políticos com púlpito mediático permite-lhe concluir que estamos perante um ataque continuado e estrutural ao PS. Enfim, a peça é importante porque desmente a ideia, alimentada durante décadas pela direita, de que a esquerda domina os media. Eu bem desconfiava, mas este assunto é demasiado importante para ser tratado por jornalistas sem cultura estatística e matemática. Qualquer análise minimamente séria e sustantiva tem de incluir políticos, sim, mas também jornalistas e colunistas com orientação política clara. Terá depois de estimar a influência de cada uma destas figuras recorrendo a métricas (share, tiragem, likes, partilhas e comentários, só para mencionar o óbvio) e à evolução destas ao longo do tempo. Não se faz em duas horas, o tempo que a jornalista do Expresso deve ter perdido a juntar os seus dados, mas também não seriam precisos 2 meses.