Obviamente, peça a demissão, Sra Ministra
Eremita
[Publicado a 25.6.2017; adenda a 1.07.21017]
Ao contrário do que ouvi no Bloco Central, um programa que leva o nome à letra, é evidente que a Ministra da Administração Interna tem de pedir a demissão e antes de qualquer conclusão de uma comissão independente ou parlamentar. O Estado falhou. Não é admissível que 47 pessoas morram numa estrada horas depois de um incêndio começar. As comissões, admitindo que chegam a alguma conclusão e não se afundam nas areias movediças da partidarite, apenas nos explicarão como falhou. É óbvio que a Ministra da Administração Interna não é directamente responsável pelo que aconteceu; aliás, com um qualquer encadeamento de causas, neste momento podemos encontrar os culpados que quisermos, como fez Henrique Raposo na edição do semanário Expresso. A responsabilidade é meramente política e, ao demitir-se, a Ministra exerceria a sua derradeira função de representação, concluindo a cena que iniciou quando apareceu nas televisões de colete. Não se trata de encontrar um "bode expiatório", como tenho lido por aí, nem de seguir o caminho mais fácil para depois não se fazer mais nada, como insinuou António Costa. Trata-se apenas de honrar a memória dos cidadãos que o Estado não soube proteger, de respeitar as centenas de cidadãos com familiares que morreram no incêndio de Pedrógão Grande e de restaurar a autoridade do Estado. Não é coisa pouca, mas seria um gesto simbólico que, sendo necessário, não é obviamente suficiente. Parece-me óbvio que não há outra alternativa e entristece-me ver tanta gente a assobiar para o ar só por apoiar o actual Governo. O que diriam eles se o Primeiro-Ministro ainda fosse Passos Coelho? A pergunta é retórica e, para que conste, eu votei no PS, vibrei com a forma como Costa chegou ao poder e provavelmente voltarei a votar em António Costa ou num dos parceiros mais à esquerda.
Adenda: Passada uma semana, o Bloco Central (o da TSF) mudou de opinião. Em rigor, apenas Pedro Marques Lopes pede a demissão da ministra, pois Pedro Adão e Silva embrulhou-se numa argumentação sem pés nem cabeça, provavelmente fruto das suas ligações ao PS. Notei que também Miguel Sousa Tavares, no Expresso, pede a demissão da ministra, mas entretanto perdeu-se a oportunidade. Vingou o argumento absurdo e reaccionário de que a demissão da ministra seria interpretada como a resolução do problema, ficando tudo na mesma. Agora vem aí uma comissão e a ministra estará em funções até serem conhecidas as conclusões. Em suma, eis uma ministra politicamente descredibilizada, fragilizada e sem um pingo de autoridade, diante daquela que será a época de fogos mais escrutinada de sempre. Só pode correr bem e estamos todos de parabéns, incluindo o complacente colunismo do Bloco Central (o genuíno).