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27
Jul18

O melhor texto sobre Robles, uma previsão e um peixe de águas profundas


Vasco M. Barreto

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A dificuldade que a esquerda tem em lidar com este caso não é apenas um exemplo de sectarismo, pois é muito reveladora da superioridade moral do esquerdista. Perante a contradição óbvia entre o que Robles diz e faz, perante as suas embaraçosas justificações, ao esquerdista empedernido só resta o estado de negação e a derradeira panaceia para as discussões incómodas que é o argumento da "falta de prioridade". Veja-se esta figura ridícula de Inês Pedrosa, sem nunca reconhecer que o prédio que Robles e a irmã reabilitaram esteve efectivamente à venda por uma pipa de massa, nem a dúvida legítima que a compra por tuta e meia de um prédio à Segurança Social levanta, sobretudo quando o comprador é alguém com contactos privilegiados na CML. 

 

O que me parece mais absurdo nesta história nem sequer foi Robles ter agido como se quisesse mesmo acabar com a sua carreira política, mas não ter aproveitado o seu investimento para moralizar. Se percebi bem, o homem e a irmã converteram cerca de um milhão de euros em 11 apartamentos com 28-41 m2 e 3 lojas recuperados numa zona histórica de Lisboa. Se, ao invés de ter entregado o negócio a uma imobiliária, que anunciou o prédio a um preço escandaloso e frisando as suas características ideais para "short term rental”, Robles e a irmã tivessem controlado a rentabilização futura do investimento e optado, desde o princípio, pelo arrendamento de longa duração a preços ligeiramente abaixo dos do mercado, ainda seria um investimento rentável - embora muito menos apetecível - que teria preservado e talvez até fortalecido a carreira política de Robles, apesar da dúvida que permanece sobre o conflito de interesses. Infelizmente, é só a posteriori que o caminho virtuoso nos parece evidente, sobretudo quando é o caminho que os outros deviam ter seguido.

 

Adenda: entretanto, Luís Fazenda abre a primeira brecha no Bloco. Robles só não cairá se o PS entender que é mais vantajoso mantê-lo para ir desgastando o Bloco e a imprensa de direita, fazendo outras contas, chegar mesma à conclusão. Mas como é pouco provável que o PS e a direita se entendam e a direita tem demasiados anticorpos contra o Bloco para reagir com frieza, o mais provável é que Robles caia esta semana. Seja como for, o destino de Robles já não está nas mãos do Bloco. 

 

Nova adenda: foi até mais rápido do que imaginei. Obviamente, evitaremos voltar a ouvir à luz deste desenvolvimento as declarações categóricas proferidas por líderes do Bloco nos últimos dias, pois seria demasiado malicioso. Quem sai bem desta história? Fazenda, Luís Fazenda, que emerge como o peixe de águas profundas (todo o partido tem o seu). 

A ortodoxia do Partido Comunista Português fez com continuasse a ser, ainda hoje, um partido importante e influente na sociedade a que pertence. Esse posicionamento foi mantido com sacrifícios, incompreensões, deserções, ameaças diversas, mas resistiu e permitiu que sobrevivesse à queda do muro de Berlim, ao contrário dos partidos comunistas europeus, que desapareceram ou se tornaram completamente irrelevantes. Isto só foi possível porque o Dr. Álvaro Cunhal soube sempre que um partido comunista, em terras de capitalismo, não sobreviveria à influência preponderante dos gramscianos saídos das universidades e das famílias burguesas, meninos com ideias que não correspondem a qualquer experiência ou sentimento de vida, que as trocariam pelo primeiro cheque gordo que lhes pusessem à frente do nariz. Por isso, Álvaro Cunhal, ele mesmo um intelectual que sabia do que a casa gastava, nunca lhes deu demasiada importância e preferiu sempre, para as posições de destaque nos órgãos do partido, pessoas com uma história de vida forjada no mundo do trabalho operário, tradição que ainda hoje se mantém. Aos «intelectuais», trazia-os sobre olho e de rédea curta, e sempre que algum levantava a voz, durava o tempo de um fósforo. O Dr. Álvaro Cunhal e a elite dirigente do Partido Português tinham, e têm, inúmeros defeitos, mas de falta de coerência não podem ser acusados. É por isso que nunca lá encontraremos um caso como o de [o] vereador Robles. No PCP não há lugar para meninos mimados, nem para burgueses emplumados com ideias que não passam de retórica de ostentação. Esse é, por definição, o terreno do Bloco de Esquerda. rui a., Blasfémias

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