O estado da crítica
Eremita
O escritou David Foster Wallace reparou que não era matematicamente possível que os primeiros críticos de Infinite Jest a escrever na imprensa tivessem tido tempo de ler o seu romance gigantesco. Entre nós, é muito possível que os primeiros críticos de O Novo Testamento, traduzido por Frederico Lourenço a partir do grego, tenham saltado algum dos evangelhos para responder à pressão da actualidade. Registe-se que este problema não ocorre apenas com as obras extensas. O minúsculo livro A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar, que Ricardo Araújo Pereira lançou perto do Natal do ano passado também foi comentado com uma ligeireza e embevecimento que deixou a suspeita de ninguém na imprensa ter feito uma leitura crítica. Em ambos os casos, a imprensa deu muito mais importância ao evento do lançamento de um livro de um autor famoso e unanimemente respeitado do que às obras. Entretanto, alguns blogs têm vindo a fazer o que a imprensa não soube e recomendo vivamente as entradas sobre a bíblia de Lourenço que foram publicadas no A Voz do Deserto a 21, 22 e 28 de Agosto.
Continuo durante o fim-de-semana.