O cliffhanger de Ricardo Sá Fernandes
Eremita
A entrevista de Ricardo Sá Fernandes a Ana Lourenço foi excepcional. Arrisco a exposição ao ridículo: fiquei com os olhos lacrimejantes - não estou a ser irónico (não estou mesmo) - quando ouvi a defesa que o advogado fez de Manuel Pinho. É possível que esta minha inesperada reacção resulte, em parte, do contraste entre a empatia (a tal "inteligência emocional") de Sá Fernandes e a ausência de empatia dos advogados de Sócrates e de outras figuras públicas em apuros. Sá Fernandes foi ao ponto de se assumir como amigo do seu cliente, uma informação que pouco faz pela imagem pública do ex-ministro, mas que aumenta o capital social de Sá Fernandes. O advogado conseguiu até a proeza de usar este caso para ilustrar a nobreza da sua profissão (o advogado que luta sozinho contra todos pelos direitos do seu cliente em maus lençóis) e fê-lo de um modo convincente. Mas o mais fascinante foi o suspense criado pelo advogado: Pinho falará quando chegar o momento certo e na altura todos perceberão por que motivo não o fez antes e concordarão com essa decisão, assegurou Sá Fernandes. Além do "défice de informação" do MP, que "razões substanciais" justificam o silêncio de Manuel Pinho? O advogado não as explicou. Depois das patetices em torno do discurso de 25 de Abril de Marcelo, que os jornalistas tanto se esforçaram por encriptar, eis um verdadeiro enigma. Grande, grande momento de televisão.