Manuel Pinho: do direito de não falar ao dever de não ouvir
Eremita
Há uns meses, pronunciei-me com entusiasmo sobre o magnífico cliffhanger de Ricardo Sá Fernandes. Esta semana percebemos que dificilmente vamos ter um esclarecimento de Manuel Pinho sobre os alegados pagamentos do BES enquanto foi ministro. O que se conclui da lamentável ida de Manuel Pinho ao Parlamento é que os deputados não deviam ter aceitado as condições por ele impostas. Pinho terá certamente o direito de não falar, mas é um direito de todos - e até um dever de cidadania, acrescento - não o ouvir sobre mais nenhum assunto enquanto ele não falar sobre o que realmente interessa. O Estado de Direito pede-nos que não nos precipitemos em juízos e estamos dispostos a fazê-lo por percebermos o que está em jogo, mas há limites e as provocações devem ser evitadas. Dar tempo de antena a Pinho enquanto especialista em política de energia, defensor da baixa do preço da electricidade, teórico do populismo e crítico da promiscuidade entre o poder político e as empresas é demasiado penoso. Pode não haver ética republicana, mas que haja ao menos pudor.