Luanda licking
Eremita
Pedro Rosa Mendes
Diz-se da auto-felação que exige dotes de contorcionista ou a coragem de remover umas costelas, mas em sentido figurado a auto-felação está ao alcance de qualquer um e poucos são os que resistem ao seu apelo.
As suspeitas sobre a cleptocracia angolana têm décadas e muitos foram aqueles que escreveram sobre o assunto. Houve casos de grande coragem, persistência e abnegação, como o de Rafael Marques, e quem tivesse sido prejudicado com processos judiciais por difamação e um despedimento, como o jornalista Pedro Rosa Mendes. Mas salvo erro meu, de Pedro Rosa Mendes nem um tweet se leu nos últimos dias, numa altura em que poderia vir reclamar alguns louros. Também desta vez o jornalista foi a excepção, pois o Luanda leaks desencadeou um show de exibicionismo sem precedentes entre jornalistas e estrelas do comentário televisivo. Subitamente, toda a gente começou a puxar dos galões, como se o "castigo" de não poder entrar em Angola ou uma menção num dos editoriais do jornal de Angola tivessem sido um problema e não apenas um simpático título honorífico involuntariamente atribuído pelo governo de Eduardo dos Santos a alguns dos seus críticos. Lamento, mas ter ladrado contra Luanda a milhares de quilómetros de Eduardo dos Santos e fora da esfera de influência de Isabel dos Santos ou de Governos de Portugal cúmplices de Luanda não é grande prova de coragem ou civismo, pelo que encher o peito agora é comportamento emotivo e primário de pavão.
Sofisticada e racional foi a resposta de José Miguel Júdice, deixado numa posição delicada pelo Luanda leaks (para já apenas na medida em que o escritório que fundou representou Isabel dos Santos). Júdice pôs em marcha um competente plano de contenção de danos, tendo exibido, ao jeito de um líder magnânimo, solidariedade q.b. com o ex-advogado de Isabel dos Santos e seu ex-colega no escritório, e comentado o caso sem o comentar, adiando respostas para ocasião menos oportuna para todos e mais oportuna para ele. Há muita experiêcia e inteligência nestas declarações de Júdice, no tom e nos tempos. Ouvi-lo não será inspirador, mas é mais instrutivo vê-lo lamber as suas feridas do que assistir a outras lambidelas.