Literatura e informação
Eremita
Creio ter identificado o principal problema de O Leão de Belfort. Precisarei de rever os índices dos livros sobre escrita de ficção que li (de Mário de Carvalho, Julio Cortázar, E. M. Forster, John Gardner, Stephen King, Milan Kundera, David Lodge e James Wood), pois não me recordo de os ver abordar este problema, o que agora me surpreende e até me indigna (se não se tratar de um lapso de memória meu), pois a minha reacção é tão epidérmica ou até visceral que só a posso entender como universal. Apercebi-me pela primeira vez deste problema num romance de João Tordo (Hotel Memória) e seria injusto não reconhecer que Alexandre Andrade é mais subitl, mas a pele não se engana. O problema surge quando o autor ultrapassa o limite para a quantidade de informação objectiva em bruto que o leitor está disposto a tolerar por página, isto é, a informação que não é imediatamente processada - como se de lixo se tratasse - pelo estilo ou então pela subjectividade do autor ou das suas personagens, obrigando o leitor a consumir uma passagem como se lesse um verbete de enciplopédia, um parágrafo de guia de viagens ou uma entrada da Wikipedia. Evitar este problema está para o escritor nestes tempos de conhecimento universal acessível instantaneamente como "rezar" ou restaurar algum misticismo está para todos nós "na era da técnica", mas se há décadas vemos regurgitações de um ludismo heideggeriano por causa da técnica, ninguém se aplica com o mesmo afinco a teorizar sobre a sobrevivência da imaginação perante a epidemia de factos. Em síntese, como ficcionar na era da informação?