Jaime (11)
Eremita
Jaime mantém a namorada à custa de doze quase-namoradas. O número denuncia a sua megalomania e um certo anseio de legitimação histórica; doze, como os Apóstolos ou os Cavaleiros da Távola Redonda. Mas Jaime inspira-se sobretudo em alguns rudimentos de geometria. Ele sabe que pode fazer daquelas 12 mulheres uma armadura, se as pensar em volta dele e da sua namorada como vértices de um icosaedro. A tarefa de Jaime é manter o icosaedro estável, evitar que alguma das 12 conheça outra e todas cortejar com o cuidado e empenho de um jardineiro ou outro profissional responsável por uma estrutura precária, como um jardim ou um recife de corais. Basta a Jaime permanecer no centro do campo libido-passional criado pelos 12 vértices do icosaedro, cujas forças trespassam a namorada de Jaime sem que ela se aperceba, como um campo magnético perpassa um corpo livre de metais. No centro do icosaedro ele sente-se seguro, ainda que algo cambaleante, pois o equilíbrio das atracções a que o seu corpo está sujeito não é absolutamente estável e precisa de reajustamentos sucessivos. Este equilíbrio instável permite-lhe encarar a fidelidade como uma possibilidade provisória e impedi-lo de cometer uma argolada que comprometa a boda, cada vez mais próxima. Mas Jaime planeia já no futuro e uma solução que não o deixe tão vulnerável a súbitas oscilações de humor de uma das quase-namoradas que perturbem o campo libido-passional. No seu caderno de apontamentos, vemos já o esboço do isosaedro truncado, com os seus sessenta vértices.