Glenn Gould detox
Eremita
No final dos anos 80, a fama de Glenn Gould era imensa e ainda maior entre os músicos. Por ter convivido de perto com estudantes de piano, também tive a minha fase maníaca por Gould e, naturalmente, ouvi inúmeras vezes as suas interpretações das Variações Golberg (BWV 988). Depois fartei-me do ego de Gould, da sua inteligência superior, da sua excentricidade, enfim, do seu génio transbordante. Discutia-se, na altura, se os ruídos que Gould emitia com a boca quando tocava piano comprometiam a interpretação. Creio que não há um consenso sobre a matéria e, provavelmente, a discussão continua. Mas ninguém discute os sons emitidos por Maurizio Pollini, a sua respiração profunda e as brevíssimas melodias que entoa quando toca O Cravo Bem Temperado. Porque à discrição do intérprete Pollini só podemos responder com reverência.