Exercícios com uma ilha deserta
Eremita
Há duas formas de praticar a thought experiment da ilha deserta. A mais usual consiste em imaginar um número pequeno de objectos que se levaria para a ilha. Trata-se de um exercício que introduz um toque de tropicalismo e aventura na elaboração habitualmente aborrecida de listas de livros, videojogos... enfim, qualquer lista, mesmo tratando-se de objectos pouco úteis numa ilha deserta tropical, como camisolas de lã tricotadas por um familiar. A forma menos praticada consiste em perguntar se continuaríamos a fazer na ilha deserta as mesmas actividades em que ocupamos a maior parte do dia. A falta de popularidade deste segundo exercício não se explica apenas pela impossibilidade de incluir actividades impraticáveis numa ilha deserta, como ser relações públicas, jogar ping pong, ter sexo com alguém ou qualquer outro tipo de convívio. Afinal, o exercício anterior não pede uma interpretação literal do exílio numa ilha deserta. De resto, trata-se de uma thought experiment, sem problemas logísticos. Assim, a impopularidade deste segundo exercício com a ilha deserta deve ter outra explicação, até porque os resultados podem ser bem mais surpreendentes do que uma lista. Mas se ainda não identificou a explicação, é porque tem uma vida invejável.