Em busca dos memes idiossincráticos
Eremita
Depois de "As abelhas estão a desaparecer do país e ninguém sabe porquê", título de um artigo de Sara Dias Oliveira, em que reparei há dez anos e não voltei a esquecer, registo outra frase feliz: "40 mil livros sempre exigem alguma estantaria"**. Não consigo explicar o meu fascínio por estas passagens, por que motivo se instalam imediatamente na memória, como se nela houvesse colchões de memory foam em tempos experimentados pelas duas frases sem que eu me tivesse dado conta. Pressente-se nesta nova frase alguma ironia consciente e, por isso, não destrona o título de Sara Dias de Oliveira, que parece intocado por qualquer pulsão de ego. Mas o que partilharão estas frases para as ter posto no mesmo grupo? Será por ambas me parecerem despidas de intenção poética, o que é bom, pois 99% das frases escritas com intenção poética falham? Será pelos temas, que me interessam? Será por serem pérolas perdidas numa torrente da escrita jornalística a que os mais velhos associam a efemeridade, apesar da revolução tecnológica me permitir referenciar o artigo de Sara Dias de Oliveira sem sair de Ourique*? Ou será pela sua singularidade, dada a infinidade de chimpanzés a bater à máquina necessária para garantir a certeza estatística de que as frases apareceriam em menos de 5 minutos? Nunca saberei. Mas se tiverem frases preferidas resgatadas do quotidiano, partilhem-nas por favor. Têm é de ser memes falhados, isto é, frases que considerem preciosas mas que a outros provavelmente soarão banais. Em síntese, não podem ser arquétipos, mesmo que os arquétipos não existam.
* Sejamos absolutamente francos: sem sair da cama.
** Sobre a notícia em si, isto é, a mudança de Alberto Manguel para Lisboa, o Fausto já me disse que prepara o panfleto "Um manguito a Mangel".