Elogio do "Tavarismo"
Eremita
Sabemos que João Miguel Tavares é um justiceiro que surfa com competência as ondas de indignação colectiva e que é o melhor no uso da técnica de interpelar directamente outros comentadores. Estas duas características explicam o seu enorme sucesso. Naturalmente, o seu estilo gerou anticorpos, especialmente entre os órfãos de Sócrates, sendo o exemplo mais extraordinário Valupi, o blogger que escreve no Aspirina B com conhecimento de causa e militância. É verdade que Tavares destoa diante dos seus colegas do Governo Sombra, mas insistir nesta tecla seria perpetuar uma irritante discriminação de classe que se pratica de modo quase inconsciente e já vai sendo tempo de notar que não estamos num concurso de regras de etiqueta para comer à mesa quando o rei é o convidado de honra.
A minha opinião sobre João Miguel Tavares mudou para melhor ao ler a crónica Dias Loureiro, a Justiça e o Jornalismo. Quando a crónica pretende ir além da inconsequência do mero exercício de estilo ou do picar o ponto na actualidade (que descreve o modo de fazer crónica em Portugal, dos humoristas do regime aos intelectuais públicos consagrados, passando pelos políticos, jornalistas e estetas que dominam o colunismo), deve incomodar. Foi o que aconteceu, como se percebe a partir destes dois textos (1 e 2). É para incomodar que um cronista serve; o resto é conversa para entreter tolos e burgueses.