Diz não à "superioridade moral da esquerda"
Eremita
Os processos actuais põem à vista uma rede que visava a eternização do PT e dos seus aliados no poder – bem como formas de corrupção que atingem todo o Estado. Durante as sessões de Porto Alegre, o PT ameaça radicalizar (vejam-se sobretudo as declarações de Gleisi Hoffmann, a presidente do partido, envolvida no escândalo Petrobras) e é possível que seja o único caminho. Seguir-se-ão as jornadas de luta e de desagravo por intelectuais, sindicalistas, cantores e “amigos do Brasil” (geralmente, pessoas que gostam de bossa nova e confundem Ipanema com a Rondónia) – mas a verdade é esta, dita hoje de manhã por Fernando Gabeira: “A tática da defesa do Lula e toda essa opção da esquerda nos colocou diante de um descaminho histórico. Porque ao invés de reconhecer todos os escândalos que aconteceram e buscar um caminho mais longo de recuperação através de uma crítica, de uma autocrítica, ela decidiu negar o conjunto dos fatos.” Um dos argumentos é o de que a justiça está a atacar a esquerda, o que é falso (veja aqui a lista de dirigentes de outros partidos, como o PMDB, PTB e PP já condenados no processo LavaJato); tem sido a esquerda brasileira a condenar-se a si mesma num país em que o PT chegou ao poder vestindo a roupagem da superioridade moral. Posso enganar-me, mas Lula – que sabia de tudo, que soube sempre de tudo, mas que se achava ungido com a estrela de guia e messias do proletariado brasileiro a quem tudo seria perdoado – será condenado, ou seja, será confirmada a condenação anterior. FJV
Com a legitimidade de quem andou muitos anos a escrever sobre a corrupção do PT, Francisco José Viegas escreve o essencial. Quanto à esquerda, o melhor é não escrever nada ou reconhecer que preservar o Estado de Direito vale mais do que salvar Lula. Há ainda uma terceira possibilidade: o embaixador Seixas da Costa, que escreve muito e sobre tudo, mostra como é possível escrever sobre este caso sem escrever coisa alguma. Chamemos-lhe deformação profissional.