Ben Shapiro
Eremita
Há anos que me acusam, com carinho, de não "ser de esquerda". Quando fui viver no bairro dos Anjos, um dos meus melhores amigos começou a caricaturar as minhas preocupações com a segurança como um discurso xenófobo e, já instalado em Ourique, a L. vai dando a entender que desconfia das minhas leituras e podcasts. Esclareço a minha posição: o principal desafio que se coloca a uma sociedade são as desigualdades de berço e a esquerda continua a parecer-me mais preocupada com este problema do que a direita. Assim, sou de esquerda. Por outro lado, as leituras mais estimulantes para um homem de esquerda fazem-se necessariamente à direita, a menos procuremos terapia de grupo ou tenhamos deixado de pensar nos problemas e nos baste uma ladainha reconfortante. Mas já vai longa a introdução para apenas vos sugerir aquele que me parece ser o melhor programa feito pela direita norte-americana: The Ben Shapiro Show. Comecei a ouvir o Ben Shapiro para contrabalançar o The Slate's Political Gabfest, feito por três liberais (entendendo-se aqui "liberal" no sentido que os norte-americanos lhe atrribuem, que entre nós corresponderá talvez à social-democracia verdadeira ou ao centro-esquerda, apesar das idiossincrasias norte-americanas). Muito haverá a dizer sobre Ben Shapiro, bastando por agora adiantar que não estou a fazer bartota; fazer batota seria escolher um Rush Limbaugh ou qualquer outro radialista conservador fanático, pouco esperto e provavelmente racista. Embora defenda que as milícias armadas de civis são necessárias para evitar que o poder caia nas mãos de tiranos, um argumento que um europeu tem dificuldade em levar a sério nas discussões sobre o porte de armas, Ben Shapiro é um menino precoce que se tornou num dos comentadores mais conspicuamente inteligentes que circulam nos media, debitando argumentos à velocidade de um relatador de futebol. Mas aqui fica o vídeo, pois não há tempo para uma caracterização mais detalhada do Shapiro e não consigo pensar numa oportunidade melhor para vos apresentar este judeu ortodoxo do que o programa que se seguiu à decisão de Trump de mudar a embaixada dos EUA para Jerusalém. Tenham apenas presente que raras são as vezes que dou razão a Ben Shapiro e discordar dele faz mais pelas minhas convicções de esquerda do que ouvir os crowd-pleasing Jimmy Kimmel e Jon Stewart. Shalom.