As mulheres que odeiam as mulheres
Eremita
Há uns dias, Helena Matos gozou com as parlamentares portuguesas que se manifestaram contra Bolsonaro. Na segunda-feira, na sua medíocre estreia na SIC como "a procuradora", Manuela Moura Guedes repetiu o número. Há razões para acreditar que para Moura Guedes havia a motivação adicional de se vingar de uma antiga colega de painel num programa televisivo para ela - e todos nós, receio - de má memória, mas ninguém duvide que também estas reacções são uma consequência do #MeToo. Um exemplo mais óbvio é a conversa forjada por Teresa Rita Lopes e Raquel Varela a propósito do caso Ronaldo, cuja causa próxima é esta crónica de Ana Sá Lopes. Rita Lopes e Varela limitam-se a replicar o pequeno terramoto que foi o texto colectivo de reacção ao #MeToo publicado por artistas e intectuais francesas. Mas sobre o #MeToo ainda é infinitamente mais gratificamente ler as mulheres do que os homens, talvez pela combinação de autoridade moral, liberdade, interesse e conhecimento que as distingue dos homens. As fracturas entre mulheres são muito curiosas e creio conseguir provar que, apesar de ser homem heterossexual e branco (tenho de me habituar a esta fórmula), não tenho o mesmo gozo perverso com que a direita comenta as fracturas da esquerda, nem me move o fascínio por aquelas figuras paradoxais que criticam ou atacam os seus , como o judeu neo-nazi do filme The Believer.
Adenda: por coincidência, no Público surgiu uma crónica com o título deste post (não é propriamente um rasgo de originalidade, bem sei), que reitera uma série de argumentos já em circulação é precisamente o texto que não quero escrever.
Continua