Annie n'aime plus les sucettes à l'anis
Eremita
A morte de France Gal foi pretexto para muitos recordarem a sacanice de Serge Gainsbourg, que pôs uma moça inocente de 18 anos a cantar em dueto versos com um duplo sentido que precedeu em décadas o idêntico duplo sentido usado na publicidade visual a gelados fusiformes. Durante décadas, esta brincadeira engrandeceu a aura de cantor subversivo de Gainsbourg. Nos dias que correm, seria coisa circunscrita ao universo da música pimba ou então as redes sociais acabariam com a carreira de um cantor respeitado. Curiosamente, a contracorrente, a jornalista Inês Nadais, do Público, escreveu um obituário com o título mais patriarcal do jovem século: "Morreu France Gall, menina de Serge Gainsbourg, mulher de Michel Berger". Bem, se a Inês pode, então também eu posso cometer a indelicadeza de aproveitar a morte de France Gal para lembrar o grande Michel Berger, escritor de canções brutalmente otovérmicas. Gostar de Gainsbourg fica sempre bem, mas é Berger quem testa a profundidade da vossa francofilia.