Afinando o tributo a John Coplans
Eremita
A série Tributo a John Coplans tem sido a que mais sofreu com o espartilho da vivência em Ourique. Não me peçam a explicação, mas parece que trasladar a vida é muito mais fácil do que trasladar o tacto. Não basta agora alguma cosmética, é necessário implementar verdadeiras mudanças estruturais para que a série sobreviva. Irei então emendar a mão e reformular as entradas anteriores para que tudo comece a fazer algum sentido. Mas o propósito inicial permanece: fazer um diário do corpo, que continuo a ver como uma boa ideia. Abandonei entretanto uma solução péssima que se insinuou durante alguns dias, a saber: forjar o diário como se o tivesse começado a escrever ainda criança, o que me obrigaria a baixar o nível de introspecção nas primeiras entradas para não perder verosimilhança. Quem se interessaria por relatos infantis de um corpo banal, que ocupariam as primeiras páginas e me fariam perder os poucos leitores que tivessem começado a ler o livro? (É verdade, penso em livros e não em posts, mas não é por megalomania, apenas desajuste, à semelhança daquelas pessoas para quem o dinheiro ainda se diz em escudos e contos). Assim, o diário prosseguirá, com uma frente a marcar a actualidade e um carro vassoura a recolher o passado por escrever, mas sempre do ponto de vista de um homem de meia idade, o que, entre outras vantagens, fará com que se privilegie uma qualquer constelação de sinais nas costas à pulsão masturbatória juvenil. Creio que ficaremos todos a ganhar. Ah, o nome permanece. Devo muito a John Coplans e é confortável ter no título de um texto tão somatocêntrico um nome que não é o meu.