Das redenções públicas
Eremita
O melhor episódio de podcast que ouvi nas últimas semanas foi - hands down - a maravilha produzida pelo brilhante Malcolm Gladwell sobre a falibilidade da memória. Meus caros, há vida além das polémicas envolvendo a orientação sexual, o Trump, a política identitária ou o Bruno de Carvalho. Lembram-se desta conversa entre Williams e Letterman, em que o jornalista teria mentido sobre a sua experiência na Guerra do Iraque?
Se tivesse tempo faria uma ligação entre o podcast de Gladwell e um livrinho muito instrutivo: The Memory Wars: Freud's Legacy in Dispute. Mas nunca há tempo para nada. Enfim, fica ao menos o repto: se, mais de vinte anos depois da publicação original, ainda nenhuma editora portuguesa traduziu The Memory Wars, somos uma nação falhada.
A propósito de nações falhadas e Freud, é pertinente lembrar que só agora Paulo Pedroso vai ser indemnizado pelo Estado e que na notícia da TSF se escreve "ex-deputo", o que pode ser um acto falhado desastrado ou uma sacanice, embora a juventude desmemoriada que impera nas redacções nos leve também a admitir que se tratou de uma infeliz coincidência. Já a deprimente leitura dos comentários à notícia não deixa qualquer margem para dúvidas: há algo de irredutível* na redenção pública.
*No sentido da impossibilidade de um restauro perfeito.
Adenda a 13.6.18: entretanto, Paulo Pedroso escreveu sobre a indemnização a que teve agora direito.