A masculinidade perdida
Quando me perguntam como é viver com 5 mulheres, escondo a minha preocupação. Não tenho dúvidas de que é muito melhor do que viver com 5 homens e nem preciso de puxar pela imaginação, bastando recordar a correlação negativa óbvia entre o asseio das cozinhas de corredor e o número de homens por corredor na casa de Portugal da Cité Universitaire (Paris), e ainda, o que será talvez mais significativo, o maior interesse que as mulheres me despertam. Mas apesar de nunca ter desejado um filho homem (a desenvolver), apesar de a chegada das gémeas ter sido um daqueles acidentes que deixam um ateu a dar graças a Deus, por vezes dou comigo a pensar no que seria a dinâmica doméstica se houvesse outro homem em casa.
Há minutos, a L. lembrou-se de usar a garrafeira dos vinhos para arrumar os pacotes de leite, a saber: leite gordo Mimosa (para as bebés) e leite meio-gordo Matinal (para os restantes). Entendamo-nos: eu percebo e até sinto o gozo de subverter a natureza da garrafeira, para mais justificado pela necessidade de espaço numa cozinha minúscula e por muito pouco vinho se beber nesta casa, que nos deixa a salvo do mero capricho. Não sinto sequer qualquer embaraço em mostrar uma garrafeira de leite aos meus amigos homens e alinharei nas brincadeiras que se antecipam facilmente. Apenas receio que este episódio seja uma manifestação mais conspícua de uma tendência constante e sub-reptícia que, pela simples força da desproporção (5 contra 1), entre outras forças (a desenvolver), me impedirá de iluminar as minhas amazonas com os aspectos positivos da mundivivência masculina (quais? Bem... a desenvolver).