A frase da semana
Eremita
Após uma manhã a ler cronistas lusos, confirmo que Pedro Santos Guerreiro é o nosso Aaron Sorkin. Reconheço algum poder no enlevo moralizador da prosa do director do Expresso, mas creio que o autor se deixa seduzir pelas suas próprias palavras e o texto acaba por soar a discurso para arrebatar plateias, manipulação que este leitor dispensaria. A crónica de hoje, sobre as declarações de Salgado, em que a novidade é ouvir-se o banqueiro a "justificar-se, em vez de negar", tem uma passagem praticamente gongórica que deixou a milhas a concorrência. A rematar um parágrafo em que Santos Guerreiro se mostra perplexo com aqueles que, ganhando um ordenado chorudo, se deixam corromper por mais alguns milhões, lemos:
Quando é que o dinheiro chega? É ter um barco maior, outro Malhoa? É ir aos palácios da luxúria esfregar-se em ruminância alarve no colchão das ganâncias? Pedro Santos Guerreiro, Expresso
Seria mesquinho reduzir a excepcionalidade da frase a negrito à inclusão de uma palavra ("ruminância") ausente dos dicionários que consultei, pois é a imagética onanista, isto é, fálica, alusiva à avareza, luxúria e egocentrismo que a torna singular.