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Um diário trasladado

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15
Jul18

A fífia feminista da FIFA


Eremita

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Entendo que se acabe com a tradição dos beijinhos das meninas ao ciclista vencedor e todas as formas tradicionais de decoração dos eventos desportivos à custa de mulheres contratadas. Mas a recomendação da FIFA para que não se filme as mulheres giras que estão na assistência é absurda, embora não surpreenda. Se estivermos de acordo quanto ao interesse de transmitir imagens de pormenores da assistência durante os tempos mortos do jogo, incluindo os momentos patuscos, ternurentos, jornalisticamente relevantes e também aqueles cujo interesse é apenas estético, o problema não é a câmara centrar-se numa mulher bonita que descobriu na assistência.

 

Para que a recomendação da FIFA faça sentido é preciso espalhar a ideia de que os realizadores dos canais institucionais que transmitem os jogos fazem zoom nos decotes e nádegas das mulheres, o que não me lembro de alguma vez ter acontecido, se exceptuarmos o caso peculiar que envolveu a paraguaia Larissa Riquelme - essas práticas existem sobretudo entre os fotógrafos. Também os comentadores reagem às imagens das mulheres vistosas controlando a espontaneidade, isto é, como se estivessem na presença de uma tia. Só por ingenuidade se pode pensar que o enquadramento das imagens e os comentários reflectem os olhares furtivos e o que realmente se passa na cabeça de um homem quando se cruza na rua com uma mulher sensual. Ora, se à custa de muitas cartas e telefonemas para a RTP ao longo de décadas e outras formas de ajustamento à evolução da nossa sensibilidade colectiva chegámos já a este nível de domínio dos impulsos mais primitivos, que fez inócuas as imagens mulheres giras nos estádios de futebol, ao ponto de poderem ser vistas na mesma sala pelo adolescente borbulhento e seus pais sem grande perturbação da paz doméstica, para quê acabar com o prazer absolutamente inocente de ver uma mulher gira depois de uma bola sobre a trave e antes do pontapé de baliza? 

 

Obviamente, a única mudança que faz sentido é começar a mostrar também homens giros. Se quisermos levar o caso mesmo muito a sério, podemos até, a bem da paridade, criar estatísticas sobre a exposição de mulheres giras e homens giros na assistência. Mas as feministas não propõem esta medida de elementar bom senso por serem vítimas das suas próprias formulações. O "male gaze" que tem de serivdo a tanta teorização transforma qualquer homem numa caricatura libidinosa de impulsos incontroláveis, quando abundam os exemplos - e descrevi um no parágrafo anterior - de que é possível chegar-se a um destaque da mulher gira que é mais estético do que sexual. Um homem que afirme não ver em Jude Law nenhuma beleza ou sensualidade acima da média ou não perceber o consenso quanto ao seu apelo físico ainda que dele discorde, mente ou então é uma criatura diminuída na sua faculdade de apreciar a beleza. Qualquer homem heterossexual é também capaz de encontrar na assistência homens giros e mostrá-los com o mesmo grau de sublimação com que as mulheres anónimas da assistência passam nas transmissões televisivas oficiais. Mas as feministas preferem perder uma oportunidade para contrariar uma das formas mais primárias e subliminares de homofobia (a ideia de que os homens heterossexuais não sabem ou não devem avaliar outro homem) em favor de um caminho que só conduzirá a um puritanismo absurdo e hipócrita. Eis um caso exemplar de desarticulação nas políticas identitárias. 

 

Um dos grandes momentos da televisão que presenciei este ano aconteceu quando Fernando Mendes, numa daquelas inúmeras tertúlias sobre bola, fez comentários elogiosos ao aspecto físico de um jogador. De repente, instalou-se um enorme desconforto entre o painel constituído apenas por homens para lá da meia idade e Fernando Mendes insistiu no assunto, com gozo evidente. É o que tem de ser feito e, muito sinceramente, se as feministas não estragarem tudo, ainda podemos retomar o bom caminho. 

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