"Não há coincidências"
Vasco M. Barreto
Um surto de Covid-19 no Hospital de Egas Moniz levou ao condicionamento dos serviços de Radiologia e Neurorradiologia. Em causa estará o número de casos positivos para o novo coronavírus entre os profissionais de saúde, o que deixou o serviço sem técnicos para realizar os exames. 25-9-2020, Observador
As máscaras são para ser usadas por pessoas doentes em contacto com pessoas saudáveis, pelos cuidadores de pessoas doentes e por quem desinfeta zonas hospitalares referenciadas, por mais ninguém. 6-06-2020 Gabriel Branco, director do serviço de Radiologia e Neurorradologia do Hospital Egas Moniz
É bem possível que só uma pandemia e o embrião de uma profunda crise me levassem a citar Margarida Rebelo Pinto sem qualquer fim jocoso. Vejamos. Não sei quantos serviços hospitalares existem no país, quantos já passaram pela situação descrita na notícia que cito, quantos directores de serviço expressaram opinião idêntica à do Dr. Gabriel Branco (figura de proa do movimento Médicos pela Verdade), e se algum nexo de causalidade pode ser estabelecido entre eventuais procedimentos idiossincráticos no serviço em questão e o número de casos positivos, mas se esta coincidência se revelar tão extraordinária como parece ser, talvez seja o momento ideal para os Médicos pela Verdade e outros libertários primários iniciarem uma profunda e longa reflexão. Porque numa praça pública polarizada, o que é válido para a mulher de César também é necessário, embora na versão negativa, para afastar a hipótese de uma mera coincidência: não basta não ser aquilo que parece, é mesmo preciso que não pareça ser aquilo que não é*. Por outras palavras, a mera coincidência deixou de ser uma possibilidade, o que só podemos entender como um retrocesso civilizacional.
* Também eu fiquei com dores de cabeça ao reler esta frase.