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OURIQ

Um diário trasladado

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Um diário trasladado

26
Set20

"Não há coincidências"


Vasco M. Barreto

Um surto de Covid-19 no Hospital de Egas Moniz levou ao condicionamento dos serviços de Radiologia e Neurorradiologia. Em causa estará o número de casos positivos para o novo coronavírus entre os profissionais de saúde, o que deixou o serviço sem técnicos para realizar os exames. 25-9-2020, Observador

 

As máscaras são para ser usadas por pessoas doentes em contacto com pessoas saudáveis, pelos cuidadores de pessoas doentes e por quem desinfeta zonas hospitalares referenciadas, por mais ninguém. 6-06-2020 Gabriel Branco, director do serviço de Radiologia e Neurorradologia do Hospital Egas Moniz

É bem possível que só uma pandemia e o embrião de uma profunda crise me levassem a citar Margarida Rebelo Pinto sem qualquer fim jocoso. Vejamos. Não sei quantos serviços hospitalares existem no país, quantos já passaram pela situação descrita na notícia que cito, quantos directores de serviço expressaram opinião idêntica à do Dr. Gabriel Branco (figura de proa do movimento Médicos pela Verdade), e se algum nexo de causalidade pode ser estabelecido entre eventuais procedimentos idiossincráticos no serviço em questão e o número de casos positivos, mas se esta coincidência se revelar tão extraordinária como parece ser, talvez seja o momento ideal para os Médicos pela Verdade e outros libertários primários iniciarem uma profunda e longa reflexão. Porque numa praça pública polarizada, o que é válido para a mulher de César também é necessário, embora na versão negativa, para afastar a hipótese de uma mera coincidência: não basta não ser aquilo que parece, é mesmo preciso que não pareça ser aquilo que não é*. Por outras palavras, a mera coincidência deixou de ser uma possibilidade, o que só podemos entender como um retrocesso civilizacional.

* Também eu fiquei com dores de cabeça ao reler esta frase. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

26
Set20

Ouriq com João Ferreira


Vasco M. Barreto

Screenshot 2020-09-26 at 10.37.46.png

Adaptado daqui.

O PCP anda a levar cacetada de todos os lados há algum tempo. Não sobra respeito pelas posições do PCP sobre política internacional, são mesmo vergonhosas. Também não sobra dúvida para ainda considerar o comunismo uma boa ideia e vejo algum delírio entre as superstars intelectuais de esquerda que parecem ter embarcado numa terapia de grupo sob o pretexto de inventar uma alternativa ao capitalismo. Estarei talvez demasiado embebido no capitalismo para imaginar uma alternativa, como aquele peixinho que pergunta what is water? Aliás, a melhor prova desta minha convicção não é resistir ao génio argumentativo de Alain Badiou no texto The Communist Hypothesis, mas não me sentir sequer ofendido pela acusação de cobardia que a sua bela mas imprecisa definição de coragem implica ("the virtue which manifests itself through endurance in the impossible"). Cada vez mais me convenço de que a organização da sociedade, uma vez desinsufladas as causas identitárias, apenas tem de resolver dois problemas: as desigualdades de berço (anulando-as o mais possível sem dar cabo da célula familiar) e as desigualdades na capacidade inata (respeitando-as o mais possível sem levar a distorções extremas ou conflitos e universalizando as oportunidades de adquirir mérito). Mas reconheço a luta de classes e creio que o PCP desempenha um papel importante no nosso panorama político e na concertação social. Se o PCP desaparecer, como está a suceder, não creio que a migração dos seus apoiantes para o Bloco, a mítica ala esquerda do PS ou a abstenção seja vantajosa para os mais desfavorecidos. Como também me parece que a eleição será ganha na primeira volta e Ana Gomes está confortavelmente à frente de André Ventura, votarei em João Ferreira. Curiosamente, João Ferreira é um colega biólogo, mas creio que sou ainda menos corporativista do que comunista. Força, João!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

25
Set20

A reductio ad André Venturum


Vasco M. Barreto

Vejamos, o nosso Ricardo faz humor a partir de crimes de violação do segredo de justiça, aproveitando para os legitimar e expandir no dano potencial ao celebrar a exploração mediática da privacidade, e até da intimidade fragilizada, e espalhando e reforçando calúnias sobre os alvos. Esta é uma actividade a que se entrega na imprensa escrita e na TV com afinco e proveitos invejáveis. E o nosso André faz humor a partir da violação dos direitos humanos, permitindo-se gozar com qualquer valor e instituição que tenha relação com o cânon da tradição greco-romana, cristã, iluminista e liberal que sustenta aquilo a que chamamos civilização ideal ou ideal cívico. Valupi 

Tenhamos alguma esperança: se o Valupi sentiu a obrigação de decorar o texto com umas carinhas de palhaço em jeito de ressalva, é por ainda lhe sobrar algum bom senso para perceber que faz uma equivalência absurda. Não está sozinho. Outros pensadores da praça já equipararam o populismo de Ana Gomes ao de André Ventura. Animadas por ódios de estimação e obsessões doentias, o resultado destas tentativas de conspurcar alguém por associação é o branqueamento progressivo de Ventura, como se isto fosse um zero-sum game. É provável que seja. Por vezes, dentro das muralhas só encontramos uma pocilga. 

 

 

 

 

 

24
Set20

Uma asneira de João Miguel Tavares


Vasco M. Barreto

A acusação ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, no âmbito da Operação Marquês, em Outubro de 2017; a acusação ao ex-banqueiro Ricardo Salgado, no âmbito do caso BES, em Julho de 2020; e a acusação ao ex-juiz Rui Rangel (e outros juízes do Tribunal da Relação de Lisboa), no âmbito da Operação Lex, em Setembro de 2020, compõem o triunvirato de acusações mais importantes da história da democracia portuguesa, e são, à sua maneira, o culminar da falência moral e política do regime. João Miguel Tavares, Público

Qualquer pessoa interessada em resolver o problema da corrupção não o pode partidarizar. É verdade que dois dos três casos mediáticos mais recentes estão associados ao PS, mas o viés da actualidade não nos deve fazer esquecer os podres de figuras do Cavaquismo. João Miguel Tavares ainda vai a tempo de perceber que a corrupção em Portugal não começou (alegadamente) com José Sócrates. Quanto ao resto da crónica, tem toda a razão. 

 

23
Set20

Um desastre comunicacional


Vasco M. Barreto

Screenshot 2020-09-23 at 11.15.42.png

Ontem ao serão, na TVI, foi penoso ouvir Francisco George a tentar explicar o batido tema dos diferentes testes COVID-19. Faltou poder de síntese, bom senso, inteligência, graça e humildade. Foi uma experiência televisiva única, no sentido em que senti uma ansiedade aguda alheia que apenas julgava possível entre familiares ou amigos. Na qualidade de alguém que também não possui uma capacidade de exposição extraordinária, deixo-lhe aqui o meu abraço solidário. Acontece a todos, Dr. Francisco George, embora a uns mais vezes do que a outros.

 

 

 

19
Set20

Para quem ainda não percebeu ou finge não perceber


Vasco M. Barreto

O populismo é contraproducente para combater a corrupção; pelo contrário, até a reforça. Não é aumentar as penas, não é diminuir as garantias do Estado de direito, não é oscilar entre a complacência e a intransigência. É pensar de uma ponta a outra a administração, das autarquias aos ministérios, é cortar radicalmente os milhares de pequenos poderes discricionários que por aí existem, obrigar a que sejam transparentes e escrutináveis muitos processos que nada justifica não serem públicos. Agora que vêm aí vários barris de dinheiro, é vital que tal se faça. 

Mas é também dar o exemplo de que não se mistura “honra” com mundos muito pouco honrados. Por isso é que a participação do primeiro-ministro, do presidente da Câmara de Lisboa e de vários deputados num acto de promiscuidade com o poder fáctico do futebol é muito grave, porque significa indiferença face à corrupção, numa altura crítica do seu combate. Como não se retractaram, ficam com uma manchaJosé Pacheco Pereira, 19.06.2020

 

Saiu esta semana o relatório anual do GRECO (Group of States Against Corruption), uma iniciativa do Conselho da Europa que desde 1999 faz recomendações aos países para combater a corrupção. Em Portugal, falta implementar 40% das medidas recomendadas na quarta ronda, há já seis anos. Um estudo do Parlamento Europeu de 2016 colocou Portugal no segundo grupo de países mais corruptos da UE. O mesmo Parlamento Europeu e a CE denunciaram várias vezes o esquema de “vistos gold" como uma porta aberta à lavagem de dinheiro. O Índice de Transparência Orçamental – uma iniciativa da International Budget Partnership que tem como parceiro português o Instituto de Políticas Públicas – tem assinalado áreas de opacidade preocupantes no Orçamento do Estado, onde sobressaem compromissos plurianuais como as PPP ou as transferências para o sector financeiro. Ainda há pouco tempo ficámos a saber que o contrato de venda do Novo Banco à Lone Star não é público e não passou pelo escrutínio do Parlamento. Agora, o Governo está a preparar-se para gastar mais de mil milhões na TAP sem nos ter mostrado planos de viabilidade da empresa, quanto espera gastar nos próximos anos e em que cenários. Susana Peralta, 5.6.2020

 

O PSD anunciou nesta sexta-feira, através de um artigo no jornal PÚBLICO, que a sua bancada parlamentar irá chumbar qualquer legislação que regulamente a representação de interesses legítimos, vulgo lóbi.

Não é a primeira vez que o PSD se opõe à regulamentação do lóbi. Na anterior legislatura, o presidente do PSD defendeu que o tema “era demasiado sensível para ser tratado em cima das eleições e que deveria ser a nova composição da Assembleia da República a tratar do assunto”, pelo que a proposta de Lei apresentada pelo PS foi viabilizada, apenas, porque um deputado do PSD se absteve.Maria Domingas Carvalhosa, 19.09.2020

Adenda: O Valupi agora já se marimba, mas a inspiração não deu para ir além do ataque ad hominem naquele registo reaccionário do passa culpas entre PS e PSD.  Porreiro, pá

 

 

 

18
Set20

As "400 mil mortes" na Itália inventadas por um incansável aldrabão


Vasco M. Barreto

Claro que na discussão se omitiu o facto de, na mesma altura, os modelos usados para tomar decisões sobre a gestão da epidemia preverem 400 mil mortos para Itália, ou seja, dez vezes mais que a realidade. Henrique Pereira dos Santos

O que fazer com um viciado na manipulação de dados? É muito frustrante ter perdido tanto tempo com este senhor e perceber que não fez a menor diferença. Mesmo depois de desmascarado, continua a aldrabar à grande. Sobre os 400 mil mortos na Itália, escrevi em tempos isto.

 

 

 

 

 

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