A gravidez de Tatiana
Eremita
Tatiana estava ao cimo da rua, ontem. O vento chegava-lhe o vestido ao corpo e notei uma diferença na sua silhueta. Como já a observo há muitos meses, foi impossível adiar a conclusão: ela leva no ventre o filho de Igor. Aquela imagem deixou-me profundamente desolado e, pela primeira vez desde que aqui cheguei, embebedei-me de noite. A manhã não tem sido fácil. Como homem que deixou de acredtiar na possibilidade da paternidade, partilho com o homem estéril uma vantagem e um defeito sobre todos os outros. A vantagem, um saber de experiência feito, é a certeza de que qualquer alarme sobre uma eventual gravidez não planeada que nos envolva é sempre falso. Isso faz-nos pessoas melhores, mais tranquilas e mais seguras. O defeito é o preço que pagamos noutras circunstâncias, os sentimentos vis que emergem. Ninguém sabe muito bem como se faz a aritmética dos sentimentos, mas creio que se sai a perder.