Da precedência
Eremita
Ainda não aprendi a retirar consolo da precedência. Ontem imaginei-me a conhecer os pais de Tatiana e fiz todo um inventário de incompatibilidades culturais, que de algum modo eram atenuadas pela barreira da língua. Que imagem terá uma família tradicional ucraniana de um português? Não faço ideia. Ouvi dizer que na Bulgária se oscila a cabeça na horizontal para transmitir concordância e na vertical para a negação, e testemunhei que os indianos oscilam a cabeça em todas as direcções do espaço para transmitir algo que talvez não se encaixe no nosso entendimento dicotómico da realidade. Como será o oscilar de cabeça ucraniano? O bidé chegou à Ucrânia? Chegou e também está hoje em declínio? Não preguei olho a imaginar a minha audição impossível diante dos pais da minha adorada, mas sei que é fraqueza de espírito. Esta mania de convocar todos os problemas não é mais do que uma desculpa para não lidar com o problema mais urgente. Há sempre uma precedência. Igor deve morrer primeiro e depois logo penso nos modos de seduzir a mãe de Tatiana e de discutir política com o seu pai.