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Eremita
Recebo pouca correspondência em Ourique. O meu irmão faz a triagem de tudo o que chega à casa de Lisboa e, tirando as contas, a publicidade e a correspondência do banco, não se salva mais do que uma carta ou um postal por trimestre. O Tommy é artista, vive em Nova Iorque, numa casinha que parece de bonecas. Ando há anos a pedir que me venda um desenho. À falta do desenho, prendi o postal dele ao frigorífico com uma mosca que é um íman. Aqui sozinho, este vai ser o mais estranho dos Natais, mas disse aos meus que só voltaria a celebrar a data quando houvesse crianças na famíla. Estou em greve de consoada e conto recolher-me no monte a ler a última colectânea de histórias de Vasco Graça Moura.