17
Jun16
Um gay para o Ouriquense
Eremita
[republicação]
Para não perturbar a paz social, tenhamos bem presente que "um gay para o Ouriquense" difere de "um gay para Ourique". Trata-se de incluir um gay neste enredo, se possível sem aumentar o número de personagens. Somos particularmente avessos às grandes sagas familiares que pedem árvore genealógica como auxiliar de leitura, bem como a exibições de grande fulgor - Proust precisava mesmo daquela lista interminável de personagens e figuras reais? Por outras palavras, impõe-se a reciclagem, de preferência escolhendo uma personagem de orientação sexual indefinida, a bem da coerência narrativa. Vejo, à partida, três possibilidades: Jaime, o moço de recados, Gaspar, o rapaz do cineclube, e Adriano, o filho do Judeu. Mas Jaime tem algumas limitações cognitivas, o que complica a construção da personagem e não permite aproveitar plenamente a orientação sexual alternativa. De modo que sobram Gaspar e Adriano, o filho do Judeu. Hesito entre atirar a moeda ao ar ou assumir que "Adriano", um nome escolhido ainda antes de ter sentido a necessidade de uma personagem homossexual, foi uma escolha presciente, pois o nome é esmagadoramente gay. post de 16.06.2013
Adenda: três anos depois, a escolha parece-me óbvia. Gaspar mantém a heterossexualidade (embora não a pratique) e Adriano será o nosso homossexual instrumental. Neste momento, isto é, a 17 de Junho de 2016, Adriano é um homossexual assumido em Lisboa mas ainda não contou ao pai, com quem costuma estar em Ourique de domingo a terça-feira (para não perder as noites de sábado).