Poesia inédita do rapaz do cineclube
Eremita
O rapaz do cineclube ainda não tem idade para desistir de escrever poesia. Quando o filme não é de acção, improvisamos umas tertúlias que começam ainda com o genérico final a correr. Por vezes, acompanho-o à guitarra. Mas o mais frequente é o rapaz declamar a cappella e de cor. Da noite de ontem, só gostei deste poema. Nunca pensei que o puto escrevesse assim e fiz questão de partilhar a minha surpresa. Também pensei que ele ainda seria virgem, mas nada disse.
A pernoita
Emendamos os corpos nas sombras do quarto
Troco órgãos por sentidos e ouves ao ouvido
Síncrono o peito não nega só que não cede
Não te tenho na mão, decoro-te nos dedos
Mas o tremor que se converte em riso, o que é?
Perfeitos na metade de quem não se entrega
Será noite outra vez e aqui estarei de novo
No quarto nu está mal corrida a persiana