Fôlego social
Eremita
Houve uma altura em que perdi o fôlego social. Mais de uma hora de convívio começava a pesar-me. Chegava animado aos jantares. A perspectiva de conhecer uma nova pessoa entusiasmava-me. Envolvia-me na conversa. Chegava a experimentar todas as pulsões: o gozo de arrancar uma risada aos convivas, o pique de uma discussão acalorada, o equívoco gerado por um toque de pernas acidental. Mas quando vinha a sobremesa já só pensava em sair dali e ir para casa. Foi mais ao menos por essa altura que voltei a deixar de ser pontual. Antes chegava atrasado por causa de um excesso de vontade, que me levava a programar demasiadas coisas. Depois passei a fazê-lo pela percepção de um excesso de falta de vontade, ou seja, para que o pouco entusiasmo não me abandonasse antes do fim do serão. Os meus amigos não repararam. Nem no período em que fui pontual, nem na alteração das razões da minha impontualidade. Durante anos foram invariavelmente dizendo: " chegas semrpe atrasado!". Da minha parte, reconheço que só tentei respostas pontuais.