Deus me perdoe
Eremita
Está a ser uma semana em que já por mais de uma vez fui agredido online por uma famosa prosa de Miguel Esteves Cardoso, o Elogio ao amor. O problema não é a prosa; MEC será sempre a referência da minha geração para uma forma iluminada de olhar a vida e assinou textos memoráveis. O problema são os aficionados de MEC em herd thinking. Não é coisa bonita de testemunhar e chega a ser perturbador ver como a própria prosa do cronista vai perdendo qualidades a cada novo elogio.
Este episódio confirma a importância da biblioteca pessoal. Se eu tivesse aberto um livro de crónicas de MEC e (re)lido o Elogio ao amor debaixo do plátano, teria apreciado a prosa, nada incomodado pelo seu tom assertivo, nem pela banalidade da sua ideia central, inúmeras vezes repetida, que é o elogio da paixão violenta, urgente e efémera. Mas o mal está feito e foi assim que uma crónica de Pedro Picoito, expressando uma ideia diametralmente oposta e com chancela do Vaticano, me pareceu tão mais arrebatadora do que as frases de MEC, que os fãs fazem ecoar como clichês.