Um título trágico
Eremita
A Quetzal lança a tradução de Infinite Jest em Novembro (vem no Ípsilon). Trata-se de um acontecimento editorial e espero que façam com Wallace o que fizeram com Bolaño: muito barulho. O artigo do Público faz referência a "100 notas [de rodapé]", o que me deixa apreensivo: foi lapso da jornalista Isabel Coutinho ou a tradução elimina (388-100=) 288 notas de rodapé? * A tradução é de Salvato Telles de Menezes e Vasco Telles de Menezes, pai e filho, que "optaram por dividir o livro", razão para ficar ainda mais apreensivo, apesar do curioso desafio académico que será descobrir no livro a descontinuidade de Telles de Menezes, ou seja, o sinal de pontuação que separa o trabalho dois dois tradutores. Mas o mais assustador é o título que pretendem dar ao livro: "A Piada Infinita". Estão malucos? Assim de repente, consigo lembrar-me de uma alternativa que, não sendo ideal, tem uma adequação polissémica e sonoridade superiores: "A Graça Infinita" ou apenas "Graça Infinita". Enfim, qualquer solução me parece melhor. Não só "piada" é das palavras mais feias que temos, como "A Piada Infinita" é uma expressão dominada pelo contraste entre a brevidade que associamos à piada e a eternidade para que "infinita" remete, o que seria inteligente e inteligível se não corrompesse a ideia do romance. Por favor, encontrem outro título. O próprio Wallace teve um título provisório antes de se decidir por Infinite Jest.
Rogério Casanova, com justiça descrito como "o maior especialista português da obra de Foster Wallace", tem a obrigação moral de usar a sua autoridade para impedir esta tragédia. Mas como Casanova, com a excepção que foram as eleições no SCP, não tem por hábito intervir na realidade antes de a realidade lhe surgir nas mãos devidamente contextualizada por uma capa e contracapa, o melhor mesmo é criarmos um movimento de cidadãos. Contem comigo para marchar sobre Lisboa e parar as rotativas. Se houve vaga de fundo para alimentar o ego de Manuel Alegre, há vaga de fundo para qualquer coisa. Juntemo-nos.
* A falha foi minha e peço desculpa a Isabel Coutinho pela precipitação. São "100 [páginas] de notas" e não 100 notas de rodapé.