Aproximações
Eremita
Com a mudança para Ourique e a cedência a uma rotina de ócio, desapareceram quase por completo os instantes de grande sintonia comigo mesmo. Costumavam surgir logo após a conclusão de alguma obrigação profissional, sob a forma de desejo intenso de correr para alguém ou então de escrever, caso não houvesse ninguém para quem correr. Parecia que a obrigação fazia com que se intensificasse uma qualquer tensão potencial elástica, que uma vez solta me impelia na direcção dos meus desejos mais íntimos e sinceros. Para um céptico por natureza, estes momentos funcionavam também como experiências acidentais de onde se podia extrair prova e eram superiores à thought experiment em que se responde à pergunta "quem ou o que levarias para uma iha deserta?", precisamente porque se fintava o raciocínio e o impulso dominante vinha com a certeza da emoção. Nada de novo. Quase todas as respostas importantes não são precedidas de uma pergunta. Mas vou tirar daqui uma lição.