Esclarecimento
Eremita
Conchita Cintrón
O Ouriquense recebeu algumas reclamações. Essencialmente, dizem-nos que escrevemos de uma forma críptica, muito pouco reader friendly. Não podia estar mais de acordo e fico feliz. Porque o Ouriquense não é o Diário da República, nem um blog empiricamente desenhado para seduzir mulheres (been there, done that), nem um projecto comercial, nem um fazer-se à fotografia para editor reparar, porque em livro seríamos ainda mais intragáveis. Aqui alimentamos uma outra ideia: a trasladação da existência como forma de libertar a escrita partilhada da marcação cerrada da consciência. Trasladamos vivências, emoções, biografias, enfim, tudo, numa exuberância barroca de quem não acredita na justificação da "persona pública" em que se refugiam os autores dos blogs confessionais de grande circulação (querem enganar quem? Ou melhor, não querem mesmo enganar ninguém, pois não?) e porque a triangulação Lisboa-Ourique-San Silvestre de Guzmán nos deixa reclamar o título de genuíno blog ibérico, capricho nosso.
Há mais problemas. Por exemplo, para os retentivos-anais da anglofilia, cometemos esse pecado de lesa-literatura que é o realismo mágico, pois anda por aqui um fantasma (Nuno Salvação Barreto) e um clone holográfico de Ricardo Chibanga, dotado de iniciativa própria e - como se não bastasse - promotor das virtudes da tauromaquia, o que nos transforma também num anacronismo reiterado, que a cada aparição do Chibanga nos afunda ainda mais num território inóspito, a meio caminho entre o Coliseu dos gladiadores e os avanços civilizacionais emergentes. Paciência. O Ouriquense é isto, take it or leave it. Most people leave it and I feel fine. Podem não acreditar, mas nos dias bons penso no Ouriquense como o meu legado e nos dias maus não me apetece ainda carregar no "delete blog". Podem não acreditar, mas aqui dentro sinto-me sempre bem e ter criado esta geografia é o meu superpoder (revelá-lo, a minha kryptonite).
Um dia recebemos esta mensagem de um estrangeiro: "Acho [que] este blog muito interessante ... embora eu não entenda tudo o que está escrito, porque o meu Português é [de] um nível elementar". Ficando assim descrito o leitor que idealizamos, podemos agora retomar os trabalhos.