Não perco um funeral
Eremita
Ter falhado o funeral da minha avó paterna quando já era adulto fez com que agora tente não deixar passar nenhum. É uma das poucas coisas que me levam a Lisboa e vejo a missa de sétimo dia essencialmente como uma derradeira oportunidade, um playoff para uma possível repescagem. Ainda assim, a experiência não me tem melhorado. Quando chego a tempo ao velório, ao funeral ou à missa, preciso de um instante de concentração para esconder a alegria de ter conseguido cumprir a obrigação. Nunca sei o que dizer aos familiares mais próximos, porque as formules de politesse me soam impessoais e não encontro alternativas a tempo. E também me incomoda recordar sobretudo a troca de olhares com mulheres bonitas vestidas de preto que não levam óculos escuros.