Verbos
Eremita
Há uns dias, no caminho para o prostíbulo de San Silvestre de Guzmán, agora que retomei a vida sexual, mas ainda em território nacional, pois quando passo a fronteira só me dá para o pensamento abstracto, vinha num esforço de memória persistente, daqueles que só se consegue ter quando o corpo se dedica a uma tarefa que exija atenção, mas pouca, e conclui, não sem grande surpresa, que ao longo da vida vão mudando os verbos que usamos para exprimir afecto, sobretudo entre pessoas instruídas. "Amar" dá lugar a "gostar", que dá lugar a "querer". Concretizemos. "Amo-te": o apogeu foi ter a expressão bordada no forro de uma colcha de cama e depois nunca mais a ouvi e devo tê-la dito uma ou duas vezes, para me arrepender nos segundos seguintes. "Gosto de ti": rapidamente se tornou dominante, é o "I love you" luso - no fundo, uma cobardice. "Quero-te": surgiu muito depois e foi uma agradável surpresa, pelo lado pragmático, pois é a verbalização directa daquilo que os corpos dizem quando estão juntos e, consequentemente, não cria expectativas. Depois mudei-me para Ourique e em San Silvestre de Guzmán o verbo é "pagar".