Gonçalo M. Tavares, again
Eremita
Desgosto cada vez menos de Gonçalo M. Tavares e desconfio cada vez mais dos membros do júri e das instituições que o premeiam. Sobre os segundos, já me manifestei, parecendo-me cada vez mais óbvio que não é o escritor que corre atrás dos prémios mas o contrário. Em Gonçalo M. Tavares, sem deixar de duvidar do seu experimentalismo, que ainda me parece superficial, admiro a capacidade de criar um universo de geografia imprecisa, a ambição e a simplicidade da sua oralidade - as páginas encerram o valor absoluto da escrita, mas é o diferencial entre a oralidade e o texto que melhor traduz esforço de um escritor. Ele parece pairar sem esforço sobre todos os outros escritores da nova geração, como uma espécie de anti-Lobo Antunes, isto é, modesto, versátil e pouco dado à autobiografia ficcionada (no romance e na entrevista). Acresce que este homem, sem a espectacularidade intelectual do Foster Wallace, parece ter a mesma bondade e preocupação com o mundo - um agnóstico como eu anda sempre à procura de referências morais. Vou ao ponto de dizer que ele é um português melhor que praticamente todos os outros. Ainda será em 2011 que lerei um livro dele (até agora, só li artigos).