Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

OURIQ

Um diário trasladado

OURIQ

Um diário trasladado

21
Mai11

Aconteceu uma coisa extraodinária


Eremita

Creio que foi Miguel Esteves Cardoso quem sugeriu que o esforço investido na escrita de uma carta deve ser inversamente proporcional ao número dos seus prováveis leitores. Esta formulação é muito inteligente, porque o seu carácter contraintuitivo cria uma tensão que só se resolve a contento de todos quando pensamos no exemplo da carta de amor. Não estamos diante da simples excepção que confirma a regra, mas que a salva, que lhe dá sentido. É como se houvesse uma descontinuidade tão abrupta na função, que acaba por ser a sua essência. É como se o problema deixasse de ser o da falta de universalidade da regra, mas o seu contrário, isto é, o da desadequação do universo à regra. Em suma, é como se apenas interessasse o amor.

 

© Rita Pinamona

 

Sendo de uma generalidade apenas aparente, nem por isso a aplicação directa da teoria geral de Miguel Esteves Cardoso à carta de amor resulta necessariamente redundante. Em concreto, quando usada para captar a essência da carta de amor perfeita, chegamos a conclusões que recuperam o carácter contraintuitivo da teoria geral, mas agora também dentro do universo restrito e tido por excepção, pelo que as conclusões são novas.  Ressalvo que a aplicação não visa definir um tipo de carta de amor, o que seria uma infantilidade; pretende-se apenas identificar um critério que permita avaliar uma tendência e que apenas compara, não define. Ora, construindo a partir da teoria geral, mas num esforço simultâneo de dedução e indução, creio que o caminho para chegar à carta de amor perfeita é dado pela aproximação assimptótica a zero do número dos leitores sobre o tempo investido na escrita.  É um rácio, mas podemos simplificar: vale mais uma carta que demorou 1 mês a ser escrita do que a que foi feita em 5 minutos e vale mais a carta que for apenas lida pelo destinatário do que aquela que entra de imediato no domínio público.

 

 

Aqui, a tensão é menos óbvia, mas está ainda presente. E não subsiste como mera recapitulação fractal do caso geral. A tensão é criada entre o valor dado à privacidade e o valor social das celebrações públicas de amor. Como não nos parece que se resolva o paradoxo relembrando que uma carta de amor é apenas um dos tipos de cartas,  que são objectos da esfera privada, devemos procurar outra explicação.

 


 

 

 

Continua

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Pesquisar

Comentários recentes

  • Anónimo

    Envelhecer é uma merda! Estava com saudades tuas, ...

  • Jorge Muchagato

    Saúdo vivamente o regresso dos textos de O Ourique...

  • Anónimo

    Nem eu...

  • Plúvio

    Ignoro com que sensação o Eremita publicou estas 1...

  • AG

    Significado de Imbecil ... adjetivo Desprovido de ...

Links

WEEKLY DIGESTS

BLOGS

REVISTAS LITERÁRIAS [port]

REVISTAS LITERÁRIAS [estrangeiras]

GUITARRA

CULTURA

SERVIÇOS OURIQ

SÉRIES 2019-

IMPRENSA ALENTEJANA

JUDIARIA

Arquivo

    1. 2023
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D